Se tem fazendinha, tem eu lá jogando e escrevendo sobre. A fazendinha desta vez é bem mais complexa, porém, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time chegou prometendo uma experiência excelente e centenas de horas possíveis. Bora ver como ficou.
Sobre Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time
A franquia Fantasy Life surgiu em 2012, com o jogo de mesmo nome, para o Nintendo 3DS, lançado pela Level5. No ano seguinte, uma versão melhorada, com diversas novidades, como possibilidade de jogar online, níveis maiores e outras, chegou no Japão. Em 2014, o jogo chegou ao ocidente, onde foi aclamado de maneira geral.
Em 2018, um jogo para celulares, chamado Fantasy Life Online, foi lançado depois de muito atraso, e o jogo foi um sucesso enorme no Japão, chegando no Ocidente apenas 3 anos depois. Em 2021, os servidores japoneses do jogo foram desligados e ele morreu de vez em 2023.
Ainda em 2023, a Level-5 anunciou Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time, mas o jogo foi adiado duas vezes, até que mês passado chegou ao PC e consoles e, este mês, recebeu uma versão de lançamento do Nintendo Switch 2.
História
Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time se passa mais uma vez na região de Reveria. Aqui, você começa o jogo num navio com um arqueologista e sua equipe, em busca de uma ilha misteriosa (não, você não é a Lara Croft). Seguindo uma luz que vem do fóssil de um dragão, vocês se aproximam da ilha, quando um dragão sombrio aparece e ataca vocês. Seu fóssil se mostra vivo, na verdade, e esse dragão esqueleto levanta voo para proteger vocês. Com a ajuda dele, todo mundo viaja pelo tempo para a ilha em questão, mas cerca de 1000 anos no passado.
Nessa ilha, Mysteria, você chega com Trip, o pássaro de estimação de Edward (o arqueologista em questão), na vila de Eternia, onde recebe uma boa acolhida de quem mora lá e chega até a Capital, onde você conhece o Rei Ranoah, sua irmã Rem e seu conselheiro Aeshan.
Nessa região, as diferentes profissões são chamadas de Vidas. O rei percebe que você não tem nenhuma e te manda arrumar uma Vida, literalmente. A partir daí, você embarca numa aventura, tendo a companhia de Rem, seu dragãozinho, Growler, e várias outras pessoas que você encontra no decorrer da jornada.
Ao voltar para o presente, você descobre que a ilha foi destruída mil anos depois, e você recebe a missão de construir um vilarejo no lugar, enquanto Edward tenta descobrir, com a sua ajuda, o que aconteceu e como evitar a destruição da Eternia do passado.
No passado, algumas pessoas começaram a desaparecer, e depois de alguma investigação, você descobre que foram transformadas em strangelings, que são objetos animados. Você precisa, então, viajar para o futuro, falar com a estátua da Deusa, oferecer umas flores para ela, e transformar esses objetos de volta em seres humanos, que a partir daí, passam a viver no seu vilarejo e a te ajudar na sua aventura.
A história do jogo não é muito longa, na verdade, ela seria bem curtinha, se você não tivesse que fazer as missões de cada Vida para poder subir de nível e conseguir realizar os objetivos. Ela tem alguns pontos bem interessantes, embora alguns plot twists sejam óbvios e outros percam um pouco de força por serem semelhantes a alguns outros jogos, mas ainda é sólida e cativante, e a personalidade única de cada personagem torna tudo ainda mais imersivo, já que como cada pessoa tem, de fato, características próprias, e você precisa de várias pessoas diferentes pra tarefas diferentes, vai acabar conhecendo muita gente diferente e se apegando a algumas das pessoinhas que você reverter à forma humana.
O jogo pode continuar a ser jogado depois de terminar a história, com algumas mudanças, e os desenvolvedores prometeram continuar oferecendo conteúdo adicional por mais algum tempo, então, pode ser que tenhamos novos caminhos de história para seguir no futuro. Eu espero que sim, porque há muito potencial.
Jogabilidade
Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time se tornou um dos meus jogos casuais favoritos, e eu gostaria que todas as fazendinhas futuras olhassem aqui e entendessem o que ele fez de certo para adicionar a seus jogos. Eu joguei o do 3DS por algumas horas, mas entre ele e outras opções, como Rune Factory 3 e Animal Crossing, eu ficava com as outras. Já no caso desta versão aqui, há tanta, mas TANTA coisa para ser feita, que o jogo é ainda mais rico, especialmente contando com o fato de ter três mapas para explorar totalmente. Como tudo o que acontece no jogo é dividido nesses três lugares, vou primeiro falar do jogo como um todo, e depois especificar de cada um dos mapas, o que varia.
A exemplo do Fantasy Life original, em The Girl Who Steals Time, você assume uma profissão, chamada de Vida. Além das 12 Vidas que estavam em seu antecessor, temos duas novas aqui. Você pode alternar entre elas a qualquer momento, e elas são divididas em três categorias básicas: Combate, Extração, Criação.
As Vidas de Combate são Paladin (Paladina), Mercenary (Mercenária), Hunter (Caçadora) e Magician (Magista). Paladins usam espada e escudo, com habilidades que aumentam suas defesas para combates mais longos. Mercenaries jogam sem escudo, com espadas largas, causando mais dano por ataque, além de certos efeitos extras. Hunters usam arco e flecha, atacando fisicamente à distância e adicionando status aos inimigos, para facilitar derrubá-los, enquanto que Magician usa, como o nome diz, magia. Usar os ataques especiais consome SP, que se regenera com o tempo (beeeem lentamente).
Aqui, vai do que cada pessoa prefere fazer e como prefere jogar. Eu, particularmente, escolhi uma Vida de Combate, depois de testar todas, de acordo com o jeito que eu gosto de jogar, e quando ia para lutas mais importantes, levava um amiguinho de cada outra Vida para me ajudar.
As Vidas de Extração são Miner (Mineradora), Woodcutter (Lenhadora), Angler (Pescadora) e Farmer (Fazendeira). Com Miner, você extrai minerais diversos. Woodcutters derrubam árvores para obter madeira. Anglers pescam e Farmers (Vida liberada depois de avançar um pouco na história) plantam, regam e colhem legumes.
Extrair minerais e madeira aqui é bem parecido: você precisa encontrar o Sweet Spot para causar mais dano, e bater na pedra/árvore até ela cair. Com o tempo, adquire habilidades especiais que facilitam esse processo. Pescar aqui é bem divertido, sendo um duelo bacana de se jogar, especialmente os peixes-boss dos mapas. Já tomar conta de fazenda é uma experiência mista. A colheita é semelhante à coleta de outros recursos, mas o processo de plantio e rega é meio estranho, especialmente quando você planta algo na sua Vila, porque o crescimento é baseado no tempo real e, se você não regar e colher em tempo, tudo estraga.
Qualquer atividade de coleta consome SP também e, ao começar e abandonar a tarefa, a pedra/árvore/o legume se regenera totalmente, então, recupere seu SP antes de começar a tarefa, a menos que saiba que o que tem é suficiente. Caso você tenha liberado Buddies que tenham alguma profissão de coleta, você pode levá-los contigo na sua jornada, para ajudar a vencer alguns desafios. Em alguns casos, você vai precisar de um valor específico em alguma habilidade de coleta para conseguir dar seguimento na história, então, caso você não tenha essa Vida desenvolvida, qualquer outra personagem que tenha pode ser usada no seu lugar.
Já a variedade maior de Vidas está nas de Criação, ou Manufatura. Cook (Cozinheira), Blacksmith (Ferreira), Carpenter (Carpinteira), Tailor (Costureira) e Alchemist (Alquimista) estão disponíveis desde o começo, enquanto que Artist (Artista) é liberada no decorrer da história.
Com a ajuda de receitas, que você pode obter de diversas formas diferentes, você vai criar coisas que vão ser usadas por você ou para completar missões. Cook cozinha comidas que podem ser ingeridas para recuperar HP ou SP. Blacksmith é responsável por criar armas, escudos, armaduras e outros itens primariamente de metal. Carpenter cria armas, escudos, armaduras e outros itens de madeira. Tailor faz roupas que não tenham muitos outros materiais além de tecido. Alchemist faz poções e outros consumíveis que te ajudam na jornada. Artist trabalha com esculturas, pinturas, qualquer tipo de arte no geral que você precise.
Todas as criações envolvem um minigame que tem três estações e você precisa usar a estação certa na ordem certa para ganhar pontos. Caso você tenha Buddies que tenham Vidas de Criação, pode usar para te ajudar também, e o valor de habilidade de cada é adicionado ao seu valor. Dependendo do quão bem você for e do quão superiores forem seus valores de habilidade em relação ao recomendado, você pode receber itens de qualidade superior à normal. Caso não consiga completar 100% de feitura na quantidade de tentativas que você tem, seu projeto será considerado falho e você perde alguns dos ingredientes usados na tentativa de fabricação dele.
O jogo tem uma lógica que não necessariamente te obriga a jogar várias profissões, mas algumas delas, se você não usar, vai ficar dependente demais dos Buddies, e de paciência. Eu, por exemplo, em 30 horas de jogo ainda não achei um Buddy que corte lenha, não teria conseguido avançar sem isso. Da mesma forma, um peixe que precisa ser pescado pela história, meus Anglers não estavam conseguindo, então, tive que subir eu mesma meu nível e usar quem eu tinha como ajudante.
Se você quer uma arma ou ferramenta, por exemplo, precisa coletar ou comprar os itens. Comprar pode ser caro, então, ir você atrás desses itens acaba ficando melhor. Aí, você coleta o material, faz o que você quer (ou pede pra alguém), e usa pra lutar ou construir novas coisas. Esse ciclo torna o jogo uma máquina de gastar horas, porque há momentos em que você vai precisar rodar os mapas atrás de coisas para coletar itens, e aí, boa sorte se não tiver a Vida necessária desenvolvida.
Para desenvolver cada Vida, você tem duas formas: nível e expertise. Para ganhar nível, basta fazer atividades naquela Vida, e você vai liberar pontos que te permitem ganhar novas habilidades e melhorar nas que já tem. Já para ganhar expertise, e subir de ranking na Vida, você precisa cumprir missões específicas. A cada ranking que sobe, novas habilidades são liberadas para comprar com pontos, além de novas ferramentas/novos equipamentos ficarem disponíveis e novas receitas poderem ser feitas.
Você não precisa desenvolver todas as vidas, e a variedade te permite jogar de maneiras diferentes a cada vez que quiser. Você pode só lutar e botar seus amiguinhos para fazer as coisas, ou pode levar uma equipe toda de lenhadores/mineradores/pescadores, etc, e coletar os recursos necessários muito mais rapidamente.
Minha única reclamação aqui é que você não pode usar Buddies guerreiros para subir seu nível de Vidas que estejam mais baixas. Caso você entre numa interação de luta, automaticamente vai mudar para a última Vida de Combate escolhida, e mesmo que seus Buddies estejam levando dano enquanto você está coletando algum recurso, ninguém vai atacar os oponentes até que você ataque. Seria legal ter a sensação de ser apenas uma jovem camponesa sendo escoltada por guerreiras fortes e vigorosas do meu lado.
Agora, vamos aos lugares/momentos no tempo:
No Presente, você tem acesso apenas à Vila de Eternia e às Depths (Profundezas), um labirinto de túneis e monstros e recursos construído embaixo de onde ficava a Capital.
A Vila (que você nomeia como quiser) é seu projeto pessoal de cidade, lembra muito Animal Crossing. Você vai construir casas pras personagens que voltarem à forma humana viverem, com elas, vai tirar entulho de vários lugares, moldar o terreno à sua vontade e espalhar decorações. Você também tem sua casa, e pode expandi-la, modificá-la e decorá-la como quiser (até os limites do jogo).
Aqui, você também pode conversar com quem habita sua vila, fazer favores e dar presentes, até chegar ao nível máximo de amizade. Quanto maior a amizade, mais bônus você recebe de ter essas pessoas na sua equipe.
Na sua Vila, você também pode plantar árvores que trazem grutas dentro. Essas grutas te levam para viajar no tempo e basicamente são uma forma mais fácil de ganhar experiência quando necessário, já que quanto mais tempo no passado você viaja, mais difícil fica cada nível.
A cada momento que você avança das Depths, a história avança junto, então, cada andar traz surpresas e novidades, além de monstros e recursos diversos.
No Passado, além da Ilha de Mysteria como um todo, você tem acesso a algumas outras regiões, com clima, relevo e atividades favoritas diferentes. Visite grutas piratas, lute no Coliseu ou fale com seus mestres de Guildas.
Além disso, em todos os cantos do Passado, há pessoas que vão te pedir para cumprir missões e essas missões vão te ajudar a conhecer cada cantinho necessário do mapa. Rem é a personagem central desta parte do jogo, e várias aventuras envolvem você levá-la para algum lugar.
A região parece ser limitada a uma ilha com cavernas e algumas pessoas, mas é bastante grande, e com muitos ambientes diversos.
Ginormosia é uma versão Fantasy Life de Hyrule. Uma caixa de areia gigantesca pra você brincar como quiser. É onde você vai grindar a maior parte das coisas do jogo. Dividida em diversas regiões, cada uma delas tem uma torre com um olho gigante (todas têm nomes e personalides próprias) que você tem que encontrar e despertar para ter acesso ao mapa daquela região. Cada região tem um clima e relevo diferentes e também tem uma certa quantidade de templos, que você precisa vencer de alguma forma para ganhar novos Buddies para sua equipe. Alguns templos exigem memorização, outros luta, outros coleta de recursos num tempo específico e ainda outros trazem puzzles para serem solucionados. Por fim, você também encontra uns bichinhos de planta espalhados pelo mapa, e encontrá-los te dá coisas novas. Parece familiar, né?
Para além disso, porém, cada área tem desafios específicos que podem ser feitos tanto jogando por conta própria (e até 3 Buddies), como com até mais 3 pessoas online (em sessões que duram apenas 30 minutos por vez), ou outra pessoa presencialmente, que por meio do controle 2 pode passar a controlar Trip, e te ajudar a bater nos inimigos. Ao fazer desafios, coletar recursos ou derrotar monstros nas regiões, você ganha pontos, que são usados para subir o nível de cada região quando você atingir certos limites. A cada nível que a região sobe, tudo fica mais difícil, de nível mais alto, e dá recompensas maiores. 100% deste jogo envolve subir todas as regiões para o nível mais alto, o que vai te exigir umas centenas de horas.
A maior dificuldade pra fazer tudo isso é a câmera, porém. Por alguma razão, o ângulo da câmera é fechado, você não consegue ver além do horizonte, se existe um lugar bonito e tranquilo pra achar uma torre que vai desbloquear uma nova região. Aparentemente, atualizaram isso na versão dos outros consoles e de PC, mas a do Switch ainda não recebeu essa, então, até que arrumem isso, está marcada minha indignação. Se o objetivo de Ginormosia era te dar a sensação de navegar na Hyrule de Breath of the Wild, você vai ficar meio que sem fôlego de tanto navegar o mundo selvagem sem saber direito pra onde você está indo.
No geral, da jogabilidade, eu acho que é isso. É impossível falar de todas as variáveis disponíveis aqui, mas saber das Vidas e das três partes principais do jogo já te dá uma ideia boa do que encontrará.
Eu genuinamente adoraria que criassem uma versão MMO deste jogo. Não sei como era o mobile, mas seria incrível poder jogar com um monte de gente, e não apenas outras três, nesse estilo de jogo e gráficos. Numa alternativa mais breve, poderiam só eliminar o limite de tempo, ou fazê-lo maior. Às vezes, você está no meio de uma luta importante, e o tempo acaba, e todo mundo volta pra vila de quem está sediando a sessão, e precisa sair de novo para outra aventura, se quiser.
Parte Técnica
Eu tinha ouvido um boato que o jogo estaria feio no Switch, mas jogando, eu sinceramente, não achei. Houve alguns poucos momentos de engasgo em cutscenes e eu não vi ainda ninguém jogando-o no Switch 2 para ter noção das diferenças gráficas, mas ele é, para mim, bastante bonito, mesmo na primeira versão do Switch original, além de não demorar muito para carregar as telas.
Os gráficos são num estilo chibi, a variedade de customização de sua personagem é muito grande. Todas as personagens são dubladas, embora essas dublagens sejam só de frases-chave, não são dublagens completas e depois de um tempo, especialmente se você passar muito tempo com as mesmas pessoas na sua Party, ficam um pouco cansativas.
A parte de áudio do jogo é maravilhosa, a trilha sonora foi feita primariamente por Nobuo Uematsu, um dos principais compositores de Final Fantasy. Apesar de sua qualidade, porém, ela acaba ficando um pouco repetitiva, eu gostaria que houvesse mais variedade, especialmente em Ginormosia. Além disso, aparentemente uma boa parte dela é reciclada do jogo original, então, quem jogou o anterior pode se dividir entre querer novidade, ou a familiaridade da nostalgia.
Algo que vou reclamar, de novo, é que o jogo não tem o português como uma de suas opções. Eu genuinamente não entendo essas decisões. O Brasil é o 10º maior mercado de jogos em faturamento no mundo e o maior da América Latina, e ainda assim, a opção mais próxima que quem não sabe inglês tem é jogar em Espanhol. As dublagens estão disponíveis em japonês e inglês, e aqui, é variado: algumas são melhores em um idioma, outras, noutro, então, jogue no que for te deixar mais confortável.
O jogo não teve nenhum travamento, nenhum fechamento forçado e nenhuma situação que eu tive que reiniciar, e eu encontrei poucos bugs visuais, geralmente porque alguém não cabia em algum lugar e ia para cima de algum elemento. Mas no geral, um trabalho muito bem feito e eu só consigo imaginar o quão incrível está no Switch 2.
Conclusão
Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é uma aquisição obrigatória para quem gosta de jogos casuais. Com total liberdade para variar profissões e modos de jogo, além de uma gama quase infinita de coisas para explorar e um modo online que funciona bem, se você é fã do estilo, é uma compra com garantia de não se arrepender.
Análise feita com cópia gentilmente cedida pela Level5
Discussões sobre isso post